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Íntegras: O bode expiatório da moda [GameMaster 40, 05/2008]

Posted by Fabão em 8 agosto, 2008

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Hoje decidi publicar um texto sobre a eterna polêmica dos jogos violentos, mais especificamente sobre a histeria midiática que se seguiu ao lançamento de Grand Theft Auto IV, no início de maio deste ano. Mesmo tendo se passado três meses, a publicação do texto hoje continua muito apropriada, já que o jogo continua sendo alvo das manchetes que relacionam jogos a crimes reais. Para oferecer uma perspectiva à luz dos últimos acontecimentos, listo abaixo alguns dos mais recentes artigos publicados no site GamePolitics.com, que acompanha tão bem os casos desse tipo:

26/06: Cops Say Teens Were Emulating GTA in Robbery Spree…
05/08: Thailand Bans GTA in Wake of Cabbie Killing
07/08: Teenage Arson Suspects Say GTA Taught Them How to Make Molotov Cocktails
08/08: Spanish Cabbies Want GTA Banned in Wake of Thai Taxi Murder

E estes quatro são apenas alguns que pincei entre os vários artigos recentes marcados com a tag Grand Theft Auto Series no site. Depois do “salto”, leia o que eu tinha a dizer no lançamento do jogo (e que sustento frente aos novos acontecimentos).

O bode expiatório da moda

Se o lançamento de Grand Theft Auto IV foi ou não o maior na história do entretenimento, enquanto escrevo estas linhas ainda não é possível dizer com certeza [EDIÇÃO: foi]. O que se pode afirmar com segurança, e isso mesmo antes da grande chegada, é que o caráter superlativo do jogo chama, mais que o habitual, a atenção para si e para a comunidade gamer – e na bacia de motivos colocam-se os certos com todos os errados. Esse surto de polemismo me obriga a retomar o assunto que abordei aqui mesmo, três edições atrás.

Os eventos mais lembram uma reprise: o jogo foi censurado para ser lançado na Austrália e foi banido nos Emirados Árabes Unidos. Na noite de 28 de abril, no quarteirão de uma loja de games em Londres, enquanto mais de uma centena de pessoas formava uma fila para o lançamento do jogo à meia-noite, um triste acontecimento deu assunto às manchetes: um homem esfaqueou outro que passava por ali. A mídia sensacionalista imediatamente associou o ato ao lançamento do jogo (“Um homem de capuz que estava na fila para comprar o novo GTA IV, um jogo de computador notório por sua violência, esfaqueou um transeunte na cabeça e no pescoço. Cerca de 100 pessoas testemunharam o ataque”, noticiou o site Times Online) e os grupos anti-jogos não se isentaram de opinar (“Não me surpreende que alguns dos que jogam isso se comportem dessa maneira”, declarou Keith Vaz, membro do parlamento britânico), mesmo que depois tenha sido constatado que o crime não teve correlação alguma com o evento em curso. Policiais de Nova Iorque e até mesmo o prefeito da cidade mostraram seu descontentamento com o jogo que parodia a metrópole. A ONG MADD (Mães Contra Alcoólatras ao Volante) pediu que a ESRB, órgão que classifica os jogos nos EUA, mudasse a indicação etária de M (Mature, para pessoas com 17 anos ou mais) para AO (Adults Only, para maiores de 18 anos). Tatyana Timoshenko, mãe de um oficial da polícia de Nova Iorque morto em serviço, declarou ao jornal New York Daily News: “Para algumas pessoas, é só um jogo. Mas para mim, não foi engraçado. Foi real. Foi com o meu filho. Esse jogo ensina as crianças a matar, e depois eles não sabem de onde vêm os criminosos”.

Eu fico profundamente consternado pelas perdas que acontecem diariamente, não apenas nos países desenvolvidos, como até em maior número no Brasil, em decorrência da criminalidade e de atos irresponsáveis. Porém, buscar um culpado nos jogos eletrônicos é uma atitude ingênua e infrutífera. Acerca desse ponto de vista, o programa humorístico norte-americano Late, Late Show with Craig Ferguson, em um esquete que foi ao ar no dia 1° de maio [EDIÇÃO: vídeo embutido abaixo para sua conveniência], satirizou a corrente que associa violência virtual a violência real: o repórter Tim Meadows cobria o lançamento de GTA IV, ele mesmo revelando ter jogado exaustivamente “para fins de pesquisa”. A certa altura, Tim atira num exibicionista que atrapalhava a transmissão, e continua a reportagem. O apresentador Craig, demonstrando espanto, exclama: “Tim, você acabou de matar uma pessoa!”. “Espere aí, isso foi no jogo ou na vida real?”. “Na vida real, Tim”. “Oh meu Deus, não!”.

Embora caricata, a encenação mostra a insensatez que é supor que o jogador médio seja afetado pela violência virtual a ponto de transpô-la para a realidade objetiva. Entender GTA IV como um celeiro de sociopatas é desviar a atenção dos verdadeiros problemas que assolam a sociedade (dica: têm a ver com três palavras: estrutura; familiar; comprometida). Não que o jogo mais caro da história precise de um advogado para defendê-lo: ele mesmo é, por excelência, uma contramedida à hipocrisia e à submissão conformista e preguiçosa à mídia como aparelho de manipulação. É uma crítica disfarçada de piada, ao melhor estilo Borat. Uma pena que o conteúdo de suas parábolas seja hermético aos carentes de boa-vontade.

10 Respostas to “Íntegras: O bode expiatório da moda [GameMaster 40, 05/2008]”

  1. brunobelo said

    É, idiotas sempre serão idiotas, não há muito o que fazer. 😦 Eu, vc e todos sabemos que a influência de um jogo não é tão grande assim em adolescentes / adultos, mas o resto do mundo não acha isso. É mais fácil botar a culpa nos outros, lógico, do que assumir que os pais de hoje em dia pouco conversam ou sabem da vida dos filhos. É triste mas é real. 😦

    In another unrelated news: baixe Braid. Hoje. Vc não vai se arrepender. 🙂

  2. auhauhuhauhhua eu me divirto… a do coquetel molotov é a melhor…

    Não entendo então porque nunca promoveram tal cruzada santa contra o MacGyver, que ensinava a equação: chiclete mascado + pilha alcalina + copo d’água = bomba radioativa. (Algumas traquinagens do seriado foram comprovadas pelo Mythbusters)

    Citando o Gamespot, nenhuma missão do GTA requer o assassinato de taxistas. Os jogadores acabam fazendo isso por iniciativa própria. Aonde está a violência: no jogo ou no indivíduo?

    Sobre o vídeo, realmente dá pra ver que rola um approach meio estúpido, principalmente porque o próprio programa não é lá dos mais brilhantes… pelo menos estão fazendo piadinhas a respeito, o que já é um avanço. Mais assustadores são aqueles programas que juntam uma mesa redonda com “especialistas” pra discutir o assunto, como aquele do Mass Effect (cenas de sexo).

    Em todos os casos, eles parecem ignorar a classificação recomendada dos jogos. Inclusive nessa matéria, ele já começa falando que é um jogo pra crianças, citando adolescentes no meio do link. Acho que o que mais me revolta não é nem essa relação imaginária entre a violência da vida real e os games, mas a presunção literalmente estúpida da mídia de massa de que games ainda são produtos exclusivamente pra crianças.

  3. Por isso, sempre recomendo aos meus amigos que acham meus jogos violentos, que deixem seus filhos assistirem às novelas da Globo e da Record, pois elas são mais educativas, destacam a cultura nacional e reforçam os laços de amor e fraternidade entre as pessoas.

    Últimamente, as que eu mais recomendo são aquelas que passam no horário nobre da Record, onde tem um monte de vampiros, bruxas e demônios bonzinhos. Seus filhos aprenderão como serem bons seres das trevas.

    De quebra eles devem assistir os programas do Datena, do Vagner Montes, da Luciana Gimenes, do Nelson Rubens e similares, para ficar por dentro das notícias que fazem do nosso país um dos melhores lugares do mundo para se viver.

    E ainda temos a TV digital, que veio para deixar as imagens das coisas “mais claras”…

  4. Fabão said

    @brunobelo
    Bem sabemos mesmo que games não são coisas que transformam as pessoas, magicamente, no exato segundo em que tocam no controle, em seres alienados ou, em última instância, em sociopatas irremediáveis. Ainda mais nós que temos filhos que já são gamers em tenra idade e que começam a entrar em contato com o mundo real, que tem círculos de influência muito mais perniciosos. Que os hipócritas e, muito mais que eles, os desinformados vão cuidar de assuntos mais preocupantes. Por que será que ninguém faz associação para conscientizar pais ausentes? Vai entender…
    A propósito, logo mais, texto em homenagem aos pais gamers. ^_~

    P.S.: Mano, como eu queria jogar esse Braid! Por tudo que li antes do lançamento e pelo que venho lendo após a chegada, deve ser uma obra de arte. Infelizmente, não posso jogá-lo pelo mesmo motivo que minha crise de abstinência de Schizoid prossegue sem esperança de melhora: não tenho um Xbox 360 ainda. Talvez consiga amenizar um pouco no console da redação. 😛

  5. Fabão said

    @Bruno Vasone
    Firmezão, Bagaço? ^_^
    Velho, você está coberto de razão. E digo mais: não apenas a mídia de massa, como a própria massa pensa que videogame é passatempo de criança e que, portanto, é inaceitável ter jogos com temática adulta. Tenho a impressão de que o mesmo já aconteceu com os quadrinhos e hoje este preconceito é menor com eles. Como disse no texto “Abaixo o preconceito“, é preciso que todo gamer faça sua parte para conscientizar as pessoas do que são os videogames e qual é o seu alcance econômico, cultural e artístico, e não apenas lúdico. ^_~
    A propósito, não conhecia seu blog e adorei! Você tem muitas leituras similares às minhas. Já assinei seu feed e estou incluindo no meu blogroll.

  6. Fabão said

    @André Ataíde
    Bem-vindo ao blog, amigo. Um pouco de ironia às vezes é bom pra fazer as pessoas reverem seus conceitos. 😛

  7. […] Íntegras: O bode expiatório da moda [GameMaster 40, 05/2008] […]

  8. E não há melhor maneira de conscientizar do que organizando baladas com amigos “niubas”, regidas por coelhos raivosos e bastões fórmicos! o.O

    Sobre o borg, nem eu conhecia ele… ele resolveu dar as caras essa semana, então ainda é completamente embrionário… valeu pela ponte.
    Aliás, acabo de reinstalar de novo hoje, e talvez o end. de feed tenha mudado, não custa dar uma checada.

  9. Se têm uma coisa que me irrita é essa mania de atribuir a “culpa” das mazelas da sociedade em algo que eles “não entendem” e, pelo visto, “nem querem entender”…

    Aliás, no meu blog também abordei o asunto (qual o blog de games daqui do Brasil que não abordou??), em fevereiro desse ano, que continua bastante atual…

    http://gameretrobrasil.blogspot.com/2008/02/5-edio-especial-censura-no-mundo-dos.html

  10. Victor said

    Jogar a culpa de seus erros nos outros (sociedade idiota>games) e se juntar para criticar/atacar uma coisa são características clássicas.

    Criticar os outros tira a “culpa” de ser um merda de cima de seus ombros, o que torna muito mais fácil. Pra que evoluir? Pra que aprender? Pra que tentar ser cada vez melhor, com os outros e consigo mesmo? Jogue a culpa em alguma coisa que está tudo beleza.

    Um grupo que se une para xingar, zoar e etc ganha força, mesmo que eles se juntem para dizer que o PacMan influenciou negativamente a geração jovem de hoje. É engraçado até ver esse tipo de coisa acontecendo, mas é rir para não chorar.

    Ainda bem, mas ainda bem MESMO, que existem pessoas que enxergam através de toda essa podridão.

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