Este é um blog sobre o estilo de vida gamer, o estilo de quem compreende os jogos eletrônicos como forma de arte, cultura, negócio e entretenimento; o estilo de quem joga, mas sobretudo de quem pensa os jogos; o estilo de quem se assume gamer, e vê nisso não um escapismo, mas um complemento a todos os outros aspectos e aspirações de sua existência serenamente revolta.
Espere tópicos filosóficos, amenidades, discussões, polêmicas, opinião, tudo isso junto e nada disso também. Enfim, viva o estilo de vida gamer e venha aqui debatê-lo.
Como prometi ao Maiquinho, vou falar de um recurso que acho muito eficiente para “colocar o leitor no clima do jogo”: o conto. Por definição, um conto é uma narrativa breve, contendo ação una e poucos personagens. Ou seja, é eficiente para sustentar a atenção do leitor, por seu caráter sintético. Como técnica empregada em um texto maior, um conto pode usar dessa vantagem para convencer o leitor a dedicar mais algum tempo ao seu trabalho, pois você o estará situando num contexto sobre o qual, espera-se, ele quererá saber mais.
Ao longo desse último final de semana começou, meio que sem querer, um meme internético que é fundamentalmente um serviço de utilidade pública: a preservação da história do jornalismo brasileiro de games. Foram reproduções, através de cópias digitais escaneadas, de textos publicados em revistas de games do passado (não tão distante). Seguem os exemplos que observei pela blogosfera:
• Hadouken: publicou a análise de Soul Calibur do Dreamcast da Gamers 43. De quebra, a capa da revista e algumas páginas de previews e notícias.
• Rodrigo Flausino: escaneou duas análises de Final Fantasy VIII publicadas na Gamers: da versão japonesa em quatro páginas na edição 38 e a da versão americana condensada em uma página da 44.
• Molobakk: resgatou um detonado de 12 páginas da SuperGamePower…
• Molobakk: … e também uma matéria de três páginas sobre o Dreamcast, por ocasião da revelação do console, da Gamers 31.
• Blogeek: desenterrou o review de quatro páginas (cheias de spoilers!) da versão japonesa de Final Fantasy VII da Gamers 17. Bônus: a capa da revista.
Isso, claro, além da análise + detonado de Resident Evil do PS1 que publiquei aqui no Gamer Lifestyle. E o mestre Prandoni ainda levou a idéia além, garimpando o manual em português the A Lenda de Zelda: Um Elo com o Passado para Super NES e o manual em quadrinhos de Mônica no Castelo do Dragão para Master System. E ainda promete propagandas antigas de games. Não vejo a hora!
Não que não houvessem tentativas anteriores de resgatarrevistas antigas ou mesmo matériasespecíficas, mas agora se delineia um plano para fazê-lo de forma consistente, sistemática e com o nobre propósito de preservar uma tradição. A mim agrada muito a perspectiva de ver um blog colaborativo ou um wiki com cópias digitais, integrais (não mais um pdf utilitarista da Gamers Book Nº 1 apenas com o detonado de Final Fantasy VII) e padronizadas de revistas de games que não estão mais em circulação e nem disponíveis em estoque nas suas respectivas editoras. Será que vai pra frente? Vamos ver.
Eu, particularmente, pretendo publicar, vez ou outra, um recorte temático da revista Gamers, bem como continuar reproduzindo textos mais recentes meus, tudo na seção Íntegras. Mas teria imenso prazer em contribuir com um projeto tão importante.
Estava um pouco cansado daquele tema que o Gamer Lifestyle usa desde a estréia, em outubro de 2006, então resolvi mudar. Troquei o tema, dei uma mexida na disposição dos widgets nas barras esquerda e direita e revisei meu blogroll. Se você recebe as atualizações via RSS, vale dar uma visitada. Aliás, quem assina o RSS e quem visita o site pela web?
E então, o que achou do novo visual? E das informações exibidas em cada tópico? E da disposição dos recursos nas colunas laterais? Gostaria de opiniões para ajustar o novo look e melhorá-lo aos poucos. ^_^
Ah! Quanto o blogroll, esqueci de alguém? Mais alguém quer figurar na lista? Diga lá… ou aqui. 😛
Vamos começar a desenterrar fósseis. Temos aqui, hoje, a matéria que fez o Hitzman gostar de Resident Evil uma matéria publicada na Gamers 09, em junho de 1996 – lá se vão 12 anos… Eu completara 17 anos na produção dessa edição, portanto, era um infante no ramo e peço indulgência pela simplicidade do texto. Na época, eu era o único redator da revista (fora as colaborações de PC e Magic the Gathering do Mário Câmara) e a produção de cada número (este foi o meu quinto) demorava cerca dois meses (tanto que essa edição de junho de 1996 traz, em sua maioria, jogos lançados em março daquele ano). Embora fosse um redator juvenil, já assumia essa responsa de que eu nem me dava conta: avaliar e detonar um jogo paradigmático, o mítico Resident Evil do PlayStation.
Numa época sem as facilidades de hoje, lembro que foi uma batalha realizar o feito (sem deixar de fazer todo o resto, que incluiu um pseudo-detonado da versão japonesa de Super Mario RPG até a parte em que encalhei e todos os golpes do meu querido KOF ’95 do Saturn), capturando mais de 100 telinhas (só isso já rendeu chamada de capa!), fazendo mapa por mapa e numerando-os de acordo com o roteiro. Por isso, não apenas reproduzo aqui o review como também disponibilizo o PDF da matéria inteira, com o saudoso detonado… Depois do “Leia mais”!
Eu nunca fui de escrever pouco. Não, não mesmo. Com o tempo, aprendi a domar um pouco a sanha de digitar sobre dado assunto. Mas concisão definitivamente não é o meu forte. Não obstante, constantemente me vejo compelido a controlar o tamanho do discurso para que ele se adeque a uma quantidade implacável de caracteres. Algumas vezes isso rende um texto visivelmente aprisionado, outras resulta em um suficientemente completo. E esse conflito é justamente o assunto do tópico de hoje: análises grandes vs. análises pequenas, quais você prefere? Para ilustrar a discussão, vou reproduzir aqui duas análises que publiquei no passado sobre o mesmo jogo… Depois do “Leia mais”!
Temática urbana e criatividade revitalizam um gênero em crise
Sistema: Nintendo DS Produção: Square Enix Desenvolvimento: Square Enix/Jupiter Lançamento: 21 de abril de 2008 (EUA) Mais:http://www.theworldendswithyou.com/
Esqueça as tramas de capa e espada. Coloque de lado aquela história de heróis salvando princesas de dragões. Nem pense também na tão desgastada temática futurista. Batalhas por turno, menus intrusivos, armaduras medievais, mundos expansivos, veículos fantásticos, diálogos convencionais… Limpe sua mente de elementos tão triviais dos JRPGs, pois The World Ends With You teve precisamente esse desapego ao abandonar as convenções do gênero.
Lançado no Japão como It’s a Wonderful World, o jogo é o experimento de uma nova geração de designers da Square Enix, orientada de longe pelo polivalente Tetsuya Nomura. E só poderia mesmo ser um desses arroubos da mocidade. World é um atípico RPG de ambientação contemporânea, temática urbana e espírito adolescente. Do início ao fim, em todos os aspectos, o jogo transpira atitude e gravita em torno do universo de interesses da plural juventude nipônica: música, moda, cultura, alimentos e conflitos existenciais.
Dando uma inusitada continuidade ao tema que abordei aqui, encontrei e resolvi publicar esse vídeo que mostra um exemplo de “racismo” em Tóquio. Acho que eu também seria considerado racista… não tem como evitar. 😛
Essa foi a minha coluna de “virada de ano” para a GameMaster, mas me parece muito apropriado republicá-la agora. Logo menos explico os porquês. Por ora, fique com o texto (tendo em mente que foi publicado em janeiro desse ano).
Devolvam-me 2005
Não me interprete mal. 2007 foi, indiscutivelmente, um dos melhores anos na história dos videogames. É impossível questionar o potencial de influência de Super Mario Galaxy, BioShock e Portal; ou a personalidade de Zack & Wiki, Folklore e Odin Sphere; ou a qualidade de Call of Duty 4, Mass Effect e Uncharted. Tivemos ainda Rock Band, Halo 3, Zelda: Phantom Hourglass, God of War II, Heavenly Sword, Crysis e mais inumeráveis ótimos jogos que cobrem todos os gêneros em todas as plataformas. Não, definitivamente eu não poderia criticar o bom e já saudoso 2007.
Por que, então, o clamor pelo retorno de 2005? Explico. Em intervalos mais ou menos regulares, a indústria de games atinge culminâncias de inspiração. 2005 nos trouxe um desses surtos criativos. Foi o ano da reinvenção de uma série com Resident Evil 4, do nascimento de franquias de ouro com God of War e Guitar Hero, da sofisticação gráfica de títulos como Soul Calibur III, Gran Turismo 4 e F.E.A.R., mas, principalmente, foi o ano da experimentação. Poucas vezes um intervalo de 12 meses conseguiu abarcar tanta ousadia, tanta atitude, tanto… talento despudorado. Pudemos rolar uma bola por cima de planetas em We Love Katamari, escalar gigantes em Shadow of the Colossus, girar o controle para fazer a comida conhecer a cadeia digestiva em WarioWare Twisted, jogar como mocinho e bandido da mesma trama em Indigo Prophecy, controlar sete personalidades assassinas de um paraplégico em killer7, contrair três ou quatro matérias de estudo de Freud em Animal Crossing: Wild World, vasculhar mentes complexadas em Psychonauts, caramba!, até mesmo recolher cocô de cachorro em Nintendogs!
Esse fenômeno costuma acontecer três ou quatro anos após a transição de uma geração de consoles domésticos para outra, quando os programadores têm intimidade absoluta com os hardwares, e os designers, ciência de como utilizar os recursos das novas plataformas – base instalada para justificar o inesperado a executivos também ajuda. É quando ninguém mais está se preocupando em mostrar o quão grande pode ser um sprite, o quão reflexiva pode ser uma superfície ou quantos personagens podem haver na tela ao mesmo tempo, só porque é possível. Quando o que importa, de verdade, é a criatividade.
Se a progressão se mantiver verdadeira, viveremos um 2008 de jogos muito criativos, que abrirá caminho para o pico de originalidade em 2009. E, se o respeitoso 2007 já trouxe muitas das características dos apogeus de inovação do passado, o que as mentes imprevisíveis dos brilhantes designers de jogos estão preparando para o próximo ciclo revolucionário? Alguém aí arrisca algum palpite para o “sucessor espiritual” de 2005?
Esse tema é pauta de discussões freqüentes entre os jornalistas de games. Independente de veículo e meio de divulgação, a forma como os reviews são pensados pelos escritores e apreendidos pelos leitores é central para o amadurecimento da crítica gamística e, por conseqüência, da mídia que cobre jogos eletrônicos e sua reputação.
Desde que se convencionou analisar jogos, na década de 1980 no exterior e com maior alcance no início dos 1990 no Brasil, o conteúdo das análises pouco evoluiu. Nessas cerca de duas décadas, os games passaram de amontoados de pixels com premissas e mecânicas simples a produções sofisticadas, capazes de muito mais do que se supunha quando de sua criação. No entanto, a avaliação deles, com algumas exceções, continua circunscrita a critérios ultrapassados, não acompanhou seu objeto de estudo em refinamento. Dificilmente vê-se um texto analítico que transcenda o eixo gráficos-jogabilidade-diversão – um conceito de diversão, aliás, geralmente insubstanciado ou, na melhor das hipóteses, mal elaborado. Quando muito, temos alguns apontamentos sobre longevidade e uma sinopse do enredo.
É evidente que não se pode abstrair a funcionalidade em uma análise de jogo, como também não é necessário abolir os comentários acerca dos aspectos técnicos – afinal, é preciso avaliar os méritos dos jogos na qualidade de produtos comerciais, e produtos comerciais interativos, seu atributo distintivo por excelência. Porém, não seria mais edificante se se escrevesse sobre a capacidade de Shadow of the Colossus de inspirar solidão, angústia, remorso em vez da diversão que costumeiramente se imputa aos jogos? Se se aludisse à sua direção artística em vez de à sua baixa taxa de quadros por segundo? Que os analistas realçassem a atitude e a estética de No More Heroes, não seus gráficos serrilhados? Senão, quando teremos críticas de fato, não apenas “reviews”?
Talvez nunca, ou pelo menos não enquanto a contraparte do texto – o leitor médio – não idealizar uma análise que aborde aspectos abstratos em vez de aquelas que navegam seguramente na superfície. Os escritores costumam abrigar-se onde moram as expectativas do leitor, e esse, presentemente, parece viver plenamente a era do utilitarismo fugaz, do imediatismo voraz. O mundo aparentemente demanda apenas reviews com função prática, com uma nota geral estampada em destaque – e geralmente isso só basta, o texto é um natimorto. Quem se importa com uma perspectiva pessoal quando o consenso está ali, fácil? A dupla de sites Gamerankings.com/Metacritic.com tornou desnecessária a opinião distintiva, e junto com ela a necessidade de amadurecer o texto.
Com isso, perpetua-se o caráter funcional e prescritivo da análise de jogos eletrônicos: ela serve pura e simplesmente para dizer o que compensa ou não jogar. Não há espaço (ou mesmo necessidade) de uma crítica mais elaborada, que contenha, além da opinião fundamentada, contextualizações pontuais, analogias cultivadas e percepções originais. Poucos encaram a crítica gamística sob seu aspecto contemplativo e transmissor de conhecimento – o não precisar querer jogar para se informar.
Paradoxalmente, vivemos a reclamar que o entretenimento eletrônico não é levado a sério, que ainda é encarado como mera distração pueril. Se quisermos tornar essa atividade respeitada, evidenciar o nível de sofisticação a que chegaram os jogos pode ser um caminho promissor. Então, que tal esperar algo mais de uma análise de jogo?