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O blog do Fabão

Que serventia tem um crítico?

Posted by Fabão em 5 julho, 2008

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Na Íntegra publicada ontem, sobre as inconveniência dos agregadores de reviews, o Diego fez uma colocação muito, muito pertinente e interessante:

Não que eu queira soar cínico com essa pergunta mas… pra que serve um crítico afinal de contas? Já não está mais do que provado que manifestações artísticas (de qualquer tipo) possuem carga subjetiva demais pra serem avaliadas a rigor e enfiadas em rankings? E que o gosto pessoal dos avaliadores, críticos ou reviewers em 90% dos casos acaba pesando indevidamente em seus textos?
Pessoalmente, escolho meus games, livros e filmes baseado em impressões sensoriais, e não palavras escritas por pessoas que nem conheço o rosto.

Eu estava postando a reposta, quando percebi que estava ficando muito extensa e que o assunto levantado pelo Diego era interessante demais para ficar meio que escondido ali nos comentários. Como também adoro metalinguajar sobre crítica de jogos, resolvi elaborar melhor o assunto em um novo tópico para tentar responder à pergunta – não sem antes muito teorizar. Você confere o ensaio – e o convido a opinar sobre ele – depois do “salto”.

De fato, manifestações artísticas (e jogos o são algumas vezes, não todas, nem a maioria) são a expressão da subjetividade do(s) autor(es). No entanto, essa subjetividade é objetivada na execução da obra. Daí o erro costumeiro de rotular, pura e simplesmente, que “poesia é subjetiva”, por exemplo. Mas já toco nesse ponto novamente.

A tarefa de um crítico, a priori, é fazer uma apreciação da obra valendo-se de critérios objetivos (análise) e, a partir daí, chegar a um julgamento axiológico dela (crítica). Penso que a análise leva à crítica, mas nem sempre as duas práticas caminham juntamente. Isso varia de acordo com a perspectiva sob a qual o autor tece seu texto, na maioria das vezes inconscientemente. Evidente que há gradações e câmbios infinitos entre uma abordagem e outra, mas acredito que dê para delinear três perspectivas diferentes:

• Perspectiva Descritiva: é o domínio da análise. Limita-se a simplesmente expor as características da obra em exame, decompondo-a em seus elementos constitutivos e relatando como ela se adequa ou não a um determinado número de critérios estéticos (e funcionais, se for o caso).

• Perspectiva Prescritiva: ingressa no campo da crítica. Idealmente, parte da análise para fazer um julgamento de valor, muitas vezes aproximando e cotejando a obra com outra(s) similar(es), com o propósito de orientar o comprador prospectivo. Porém, há críticas que chegam ao preceito a despeito da base analítica que sustenta os pontos de vista, correndo o risco de parecerem banais ou levianas.

• Perspectiva Gnóstica: em contraposição à função prescritiva, tem o objetivo de transmitir conhecimento. Procura compreender a intenção da obra, penetrar além da superfície do conteúdo, devassar a subjetividade objetivada na forma, enumerar as inspirações identificáveis, explicar a obra pelo autor e o autor pela obra e tentar definir a sua colocação dentro da tradição a que pertence. Valoriza, portanto, o sentido da obra.

Acho, e apenas acho, que essas três perspectivas englobam as críticas de qualquer manifestação artística, seja de belas-artes, de literatura, de cinema, de música… Mas tenho plena certeza de que encerra todas as tentativas de sondar jogos eletrônicos.

Há análises de jogos que se limitam puramente a descrever o jogo, sem ousar transparecer opiniões – o que seria função da prévia, e mesmo as mais sofisticadas destas já apresentam traços de julgamento. Há críticas de jogos, e estas são as mais numerosas, que procuram determinar o valor dos produtos para orientar a compra dos leitores. Pelo caráter pragmático, tornam-se efêmeras, caem vítimas do próprio imediatismo a que servem. O propósito utilitarista faz com que seja necessária, na esmagadora maioria dos casos, uma nota que acompanhe o texto, seja númerica, alfabética ou iconográfica, e isso dá azo aos ranqueamentos que ressalvei. E, por fim, há os textos que se pautam pela perspectiva que defino como gnóstica, que se tornam mais ensaios sobre jogos que propriamente análises ou críticas. É o tipo de texto que se ocupa mais em compreender o jogo que recomendá-lo ou não, que o considera, mais que um produto, um trabalho de arte. É a abordagem que idealizei, não tão aberta e objetivamente quanto agora, na coluna “O que se espera de uma análise de jogo?“, em que também mencionei a importância da expectativa do leitor para que essa abordagem seja mais amplamente difundida na mídia de games.

E então voltamos a atenção para o leitor para responder à pergunta “Pra que serve mesmo um crítico?”. Nos termos que coloquei aqui, penso que um analista, tanto quanto um press release, serve a jogadores pragmáticos, que buscam simples informes para saber se um jogo vai de encontro aos seus interesses ou não. Um crítico, seja um profissional, um garoto de fórum ou um amigo, tem mais a dizer para jogadores preocupados com qualidade, seja lá o que isso signifique para eles. Já um ensaísta só encontra eco naqueles entusiastas mais eruditos.

Independentemente do jogador ou do escritor, opinião própria é um bem de valor inestimável e, preciso acrescentar, que deveria ser inalienável, embora nunca inalterável. Acredito que ela, a opinião, só tem a enriquecer ao manter contato com as alheias, seja por afinidade ou por contraste. Você não precisa concordar com o que alguém diz para ouvir o que ela tem a dizer, se o que ela tem a dizer é proveitoso para definir o que você é ou não é, o que você quer ou não quer. Não é preciso nem conhecer a pessoa para dar atenção ao que disse ou escreveu – supondo que assim fosse, para que leríamos e comentaríamos pensadores falecidos?

Em suma, o que quero dizer é que, se abandonarmos o propósito utilitarista ao considerar uma resenha de jogo, e passarmos a apreendê-la de modo a acumular conhecimento (reconhecendo que você não precisa querer experimentar algo para se informar sobre este algo), teremos muito a enriquecer cultural e intelectualmente. Mas isso depende também do tipo de texto a ser lido.

______________________________

Espero, conquanto não creia, que eu tenha colaborado para compreender o papel do examinador de jogos, seja ele analista, crítico ou ensaísta. Acho que ainda precisaria elaborar melhor o texto, mas por ora (e por hora, já que são quase 5h da manhã) talvez baste para iniciar o debate. E você, o que pensa disso tudo?

49 Respostas to “Que serventia tem um crítico?”

  1. Diego said

    ~~Adorei a imagem dos macaquinhos!!~~

    Você foi claro e direto ao ponto. Tenho que admitir que até hoje não tinha “dissecado” o método da ‘crítica’, mesmo que inconscientemente o compreendesse. Também achei interessante a colocação de que a subjetividade artística objetiva-se durante a execução da obra. Mas o que ainda vinga apesar de tudo, é a mentalidade de que o crítico é um todo-poderoso. Seu ensaio trata de um cenário ideal (como deveria), já na prática nem tudo são flores. Eu lembro como a recente adaptação para o cinema de Alexandre O Grande foi completamente esculhambada pela crítica, que hoje possue mais influência no mercado do que seria saudável (como mencionado no seu post anterior), e por isso teve um rendimento baixo nas bilheterias. Quem já viu passar William Gibson e Douglas Adams, diz o que de Harry Potter? Oportunismo inocente de uma mulher falida que deu um banho de contemporâniedade em mitologias desgastadas e publicou tudo num país recheado de jovens carente por histórias com as quais se identificar? Ou só uma história legal com um bruxinho gato-borralheiro e talentoso, que preza pela amizade e justiça, posto no papel por uma autora que fez bem a lição de casa tematizada em “folclore bretão”? O quanto disso tem valor quando posto na mesa junto as “impressões sensoriais” (como mencionei) do consumidor? Não tem pirralha que gosta de HP só porque o Radcliff é “Hot”? E muitas outras coisas ainda poderiam ser ditas a respeito.

    …No fim das conta eu queria memu a dá um Hadukêin… diz aê véi, tu tb queria sabe dah o Hadoukhein neh? Bah ia c phoda….

    Muito obrigadíssimamente obrigado. Foi um verdadeiro serviço de utilidade pública. Queria que mais pessoas com acesso a teclados e blogs também tivessem sinapses que dessem em algum lugar.

  2. Dori Prata said

    Sinceramente, estou sem palavras. Fica difícil escrever uma frase que seja após ler um texto tão brilhantemente desenvolvido.
    me deu muita vontade de mudar a forma como realizo minha análises 🙂

  3. […] “Fabão” Santana publicou no seu blog, talvez não por coincidência, um ótimo debate. Qual a serventia dos críticos de games? Para que serve aquele carinha que senta na frente do computador, batuca num teclado suas opiniões […]

  4. Antes de tudo, preciso comentar que o teu rebuscamento chegou a níveis inéditos nesse texto, Fabão. Será que isso é bom? Imagino que vai ter gente com medo de comentar por não ter certeza de que entendeu o raciocínio por completo, ou mesmo por não saber escrever tão “enfeitado”. 😛

    Foi muito interessante aprender sobre as três perspectivas, e eu realmente gostaria de saber qual o interesse do público brasileiro pela gnóstica. Porque, até onde eu me lembro nesse momento, não temos nenhum veículo que escreva as suas resenhas dessa forma. Pelo menos uma coisa eu sei: eu não tenho capacidade de escrever dessa forma. Minha perspectiva “do doração” é prescritiva, e espero que assim esteja bom para os meus leitores!

    Respondendo à pergunta central do post, pra mim a serventia do crítico é uma só: dar munição para os trolls de fórum. 😛

  5. aypycy said

    Excelente texto, parabéns.

    Entendo como critico uma pessoal que analisa sob o ponto de vista profissional sobre algum assunto, e aqui pode ser qualquer área. Não necessáriamente é uma simples opinião ou indicação, á um estudo aprofundado sobre o assunto.

    Quando escrevemos algo sobre, por exemplo, um jogo, por mais que sejamos conhecedores sobre o assunto e mercado, colocamos no fundo um simples “gostei” ou “não gostei”. O que seria numa conversa entre amigos um simples “Cara, pode comprar”. De um critico (na sua essência) eu espero um “estudo” aprofundado sobre a coisa, como a “tecnologia utilizada para desenvolver as sombras do personagem foi bem empregada, pois…” coisas assim. OU coisaso do tipo “O diretor de arte deste jogo foi influenciado claramente pela arte do jogo X”. Não sei se estou sendo claro, mas critico é o cara que se aprofunda na coisa e estuda friamente, sem levar em conta emoções pessoais.

    Na música isso fica muito claro. Quantas vezes gostamos de uma baa que a critica rejeita e vice-versa?

    Ou seja, criticar não é analisar. Eu pelo menos raramente encontro uma critica sobre game, normalmente encontro análises.

  6. Maiquinho said

    foi as 5 da manha?
    putz, entrei pela ultima vez as 4 no teu blog pra ver se tinha atualizado :p

    vou tomar a liberdade de citar este post em qualquer review q eu fizer, pra deixar claro q sempre buscarei me filiar à terceira perspectiva

    na verdade, por acaso poucas horas antes deste post eu havia publicado no blogeek uma análise da morte da Aeris em FF7 q vai ao encontro deste enfoque gnóstico, e convido o senhor a lê-la quando tiver disposição

    por fim, quero ainda reforçar a dificuldade q é analisar um game ou obra de arte a partir da sua subjetividade. o autor objetiva suas emoções na obra, o crítico precisar decodificar as emoções do autor a partir do produto, para depois de sentí-las, produzir sentenças lineares a respeito. é um movimento cíclico. sinto as vezes q falta me falta o talento de um poeta para expressar essa subjetividade captada

  7. Mestre é Mestre sempre.
    pois bem, todo mundo já elogiou o texto [[o PUTA FUCKING TEXTO]] então eu vou humildemente só responder a pergunta.
    Os criticos dos games servem [[pelo menos para mim]] para criar perspectivas quanto a um game X.
    Por exemplo, eu não sei nada sobre um game, então eu leio o Preview, o Review e até um “Depois do Jogo” [[se não conter expoilers é logico]], mas nao é certeza d que se o game não foi bem “avaliado”, ou seja, nao recebeu uma nota boa, que eu irei perder o interesse nele.
    Já comprei vários games q tinham uma nota abaixo de mediana e adorei, como tambem já gastei meu rico dinheirinho em jogos nota 10/A+/100/super-hyper-master-mega-sublime-compre-agora-já e depois de algumas semanas estava lá largado na penteadeira…
    Eu sempre tento colocar as criticas sobre um game como uma forma de me posicionar sobre o seu conteudo, mas sempre q posso [[e na maioria das vezes nas lojas q compro, eles me dão essa oportunidade]] eu vou e jogo uma meia horinha do game, somente pra criar então a minha perspectiva sobre o produto.
    Compro varias revistas de games, leio N blogs e considero o trabalho do critico de games não somente excenssial, como tambem gratificante de acompanhar.
    Já conheço a opinião de varias pessoas da industria e me identifico pouco a pouco com elas, então sempre presto uma atenção maior naqueles que julgo serem parecidos comigo [[como o Mestre Prandoni e o Mestre Pablo]], pois sei que a avaliação deles vai bater mais ou menos com a minha.
    Mais uma vez parabens pelo texto Mestre Fabio.
    E parabens por terminar MGS 4 haha.
    [[o meu tah demorando uma eternidade pra chegar…]]

  8. expoilers com E e X foi complicado…
    Me perdoe Mestre… Prometo elevar o LvL na proxima vez.

  9. Fabão said

    @Diego
    O espírito contestador faz com que os outros raciocinem. Eu é que devo agradecer pois você me motivou a desenvolver e transformar em caracteres um conceito que eu só tinha em estado embrionário. Agora é larva, e leva tempo ainda para chegar a borboleta. A imagem dos macacos foi meio para mostrar isso: o que vejo por aí é que os profissionais que se dedicam a pensar os jogos ainda são mais ou menos jovens (eu muito incluso), exatamente como a própria mídia, e que há muito ainda a se aprender. Quando olho para revistas de 10 anos atrás e comparo com a maturidade que hoje alcançamos, fico imaginando como estaremos daqui outros 10, 20 anos.
    Eu também acho muito nocivo o pensamento de que críticos, seja qual for a área de atuação, são absolutos, que têm a palavra final sobre o objeto que estudam. Somos todos humanos, e portanto falhos. Por mais que estudemos, por mais que leiamos, por mais que absorvamos e processemos conhecimento, mais nos damos conta de que temos um universo infinito ainda a devassar – já proclamava Sócrates.

  10. Fabão said

    @Bracht
    Sua proposta de Discussão de Fim de Semana me foi inesperada e me sinto muito lisonjeado, de verdade. ^_^
    Quanto ao estilo, só tenho a dizer: Aew, naum interessa se vc escreve bunitinhu ou se usa miguxês, o ki importa saum as idéias ^_~. Nada de preconceito lingüístico.
    E eu já usei muito da perspectiva descritiva até passar à prescritiva. Porém, lendo textos de autores da envergadura de Pablo Miyazawa, Renato Bueno e Eduardo Trivella, para citar três brasileiros, e mais recentemente os publicados na Edge, comecei a perceber que há mais por trás de um texto que simplesmente dizer “é bom” ou “é ruim”. Pelo que leio dos seus textos, percebo que você também trabalha com essa consciência.

  11. Fabão said

    @Aypycy
    O estudo aprofundado que você sabiamente espera é onde entra a “bagagem” que o Bracht mencionou no tópico anterior, já que opinião precisa ser embasada para ter crédito.
    Só discordo quando você diz que crítico é o cara que se aprofunda no assunto e o estuda friamente, sem levar em conta emoções pessoais. Acho que esse é o analista. O crítico, ao emitir opinião, o faz, inevitavelmente, movido pelas emoções que experimentou. O que não acho ruim, já que, como coloquei, você não precisa se identificar integralmente com o que o texto diz para formar o seu conceito.

  12. Fabão said

    @Maiquinho
    Eu li seu texto poucas horas de publicar este e fiquei muito, muito feliz. É esse tipo de visão mergulhadora que transpassa a superficialidade com que os jogos são comumente encarados. É a essa prática que me referi no final deste texto como a que pode mudar a maneira como games são encarados pela massa.
    E não se esqueça: a poesia está em todos nós. Para entendê-la, basta que nos acostumemos a processá-la. Ler e reler. Experimentar e fazê-lo novamente. ^_~

  13. Fabão said

    @Caio Corraini
    Disse tudo. Ler a crítica é bom para criar uma perspectiva, mas nada se compara ao valor de apreciar a obra e formar a sua própria opinião, que pode ou não se identificar com os textos lidos.
    Isso me faz lembrar também de um texto que li recentemente:
    “Nenhum livro que fala de outro livro diz mais sobre o livro em questão”, de “Por que ler os clássicos?“, do livro homônimo, de Ítalo Calvino. Trazendo para o nosso assunto, pode-se dizer que nenhuma crítica lhe dirá mais sobre um jogo que a própria experiência de jogá-lo. ^_^

  14. Maiquinho said

    @@Fabão

    chorei agora ;~~
    recebo estes elogios como quem recebe um premio
    e espero algum dia chegar ao nivel do mestre cuja obra, ja na epoca da gamers, me fez gostar e apreciar os jogos como arte interativa o/

  15. […] Sendo assim acesse, no link a seguir, o blog do “Fabão” e vamos discutir: Pra que serve a crítica de games? […]

  16. …E ainda ontem a noite estava discutindo com o sr Fábio Santana sobre esse mesmo assunto. E a questão pertinente aqui nem é mais se as notas para os jogos são de alguma serventia, ou se videogame é um produto comercial demais para ser apreciado de um ponto de vista menos utilitarista (existe essa palavra? nem sei) e mais gnóstico. Já vi resenhas de jogos que me prenderam a atenção e não eram nem um pouco meras análises – as de Shadow of the Colossus na EGM Brasil até hoje estão gravadas na minha memória – e outras que decepcionam e muito, não pela simplicidade mas por dar a sensação de que mentem para o leitor sobre a qualidade do jogo. E nesse ponto eu acho que o crítico tem que ser sincero, não importa o tipo de texto que escreve.

    Até a questão de dar notas é uma coisa estranha, quando você para pra pensar: o que diferencia um jogo nota 7,0 de um 7,5?

    Mas no fundo a questão maior é o tipo de texto que os leitores esperam encontrar, seja em revistas ou na internet. Será que a maioria se interessa por um ensaio mais aprofundado? Ou querem apenas o prazer de guinchar “Como assim só deram 9,5 para GTA? Morram seus Nintendistas”?

    Eu devia dar uma opinião aqui, mas não tenho sempre uma boa resposta pra tudo, nesse caso, tenho só um monte de perguntas.

  17. Diego said

    Legal, parece que uma reação em cadeia atingiu a blogosfera gamística. Acho que isso aqui ainda dá pano pra muita manga e espero ver mais profissionais e leitores dando as caras.

    (Ei, alguém reparou que tem um smile piquinininhu lá em baixo, embaixo do nome Andreas Viklund?)

  18. Cara, crítica e críticos (sejam eles de música, cinema, literatura, etc..) são assuntos astante peculiares e ocmplicados de definir as suas “funções”. Acho que o crítico, como já disseram, tem a função de criar, de despertar um certo interesse pelo material de estudo. Não que você concorde com todas as linhas redigidas na crítica, mas, muitas das vezes, é uma opinião sobre um determinado assunto ou mídia que desperta o interesse da pessoa pela mesma.

    Agora, sobre as questões que o Pablo Raphael levantou: as notas, ao meu ver, são nada mais nada menos do que uma tentativa do escritor em sintetizar em algum símbolo de fácil assimilação o que ela achou daquele universo de análise para aquele leitor que não têm paciência (ou saco, tempo, etc…) de ler um texto quilométrico. E, até por esse poder de síntese, as notas são totalmente subjetivas. Uma nota 7,0 para alguns pode significar um jogo bom, mas para outros um jogo mediano. E muitos apenas prestam atenção nas notas, se esquecendo desses detalhes. E aí vêm a questão dos leitores: muitos sentem essa necessidade de que alguém supostamente mais abalizado dêem uma opinião formada para eles, sem ao menos assumirem uma posição crítica sobre ela. E isso é o mais prejudicial nessa questão: assumir a opinião dos críticos (sim, porquê é impossível nos livrarmos da imparcialidade quando escrevemos sobre um assunto) como a verdadeira e absoluta.

  19. Fabão said

    @Pablo Raphael
    Pois é, brou. Poesia não sensibiliza todo mundo. Cultura não interessa a todo mundo. Filosofia não é massagem mental para todos. Como esperar que um texto mais rebuscado seja apreciado pela turba? Não posso fazer outra coisa senão recomendar que leia Mateus 7:6.

  20. Fabão said

    @Diego
    Se dá. ^_^
    (Meu Deus! Eu nunca reparei! /o\ Ainda bem que não é a marca d’água do IGN. :P)

  21. Fabão said

    @Adney
    A intenção da nota é boa, o problema é como a maioria as valoriza sobre todo o “resto”. Quantas vezes não vemos fanboys discutindo notas de críticas que nem leram? E mesmo dos que leram, quantos já se importaram em verificar, uma vez sequer, a filosofia de avaliação do veículo, para entender o peso de cada nota?
    E o que você falou sobre leitores é apenas uma das conseqüências de uma parcela da sociedade que vemos, que prefere transferir o trabalho de raciocinar para os outros.

  22. @Diego e Fabão

    Pequeno off-topic pra explicar o smiley misterioso: aquilo é uma pequena imagem em formato GIF, usada pelo WordPress para construir as estatísticas de acesso do blog. Como ele fica no rodapé, aparece em toda e qualquer página do blog, então contabiliza todos os acessos. Pode ver que ele está no rodapé de todo e qualquer blog em wordpress, inclusive o Continue (embora não seja impossível tirá-lo).

  23. […] esse cara está na lista!) e não lembro muito certos aspectos do jogo (já que quero escrever um review arrasador nos próximos games que for […]

  24. idiosyncratic idiot said

    Rulou o texto. Após ler todos os comentários não tenho muito acrescentar, só queria concordar com alguém aí em cima que falou que os reviews de games (especialmente os que seguem a abordagem prescritiva) são válidos sim. Se o sistema de combate do jogo X é mal-implementado e cheio de falhas, por que não criticá-lo? Por que não utilizar de parâmetros já existentes para avaliar um determinado aspecto de um game? Só não acho que opiniões de reviewers devam influenciar a nossa. Mas como foi dito, muitas vezes eles nos instigam a pensar, a ponderar as nossas próprias visões sobre o jogo.

    Quanto a perspectiva gnóstica, eu acho que só recentemente os games estão atingindo um nível de sofisticação que os torne passíveis deste tipo de análise. E mesmo assim são poucos esses jogos, um Metal Gear Solid 4 aqui e um Bioshock ali, que levantam intermináveis discussões sobre o que os temas abordados designers estão tentando dizer. Mas na maioria das vezes não existe mensagem implícita nem intenção nenhuma. Por isso tenho um certo receio quanto ao uso dessa perspectiva – as vezes dá a impressão de o comentador está perdido em uma masturbação mental, tecendo teorias mirabolantes, tentando convencer a si mesmo de que Tomb Raider tem alguma agenda feminista libertária ou ficar achando que Mario Bros. é uma metáfora para a derrubada de um regime totalitário. It’s just a f***ing game.

  25. Fabão said

    @Idiosyncratic
    Opinião realmente é o centro de uma resenha de jogo. Algo que não explorei no texto, embora tenha mencionado brevemente (“Evidente que há gradações e câmbios infinitos entre uma abordagem e outra”), é que as perspectivas dificilmente são puras. Há trabalhos prescritivos com traços gnósticos, e quase sempre com características descritivas, como há textos gnósticos com fio prescritivo (até porque, se não for assim, ele é puro ensaio mesmo, sem a pretensão de aconselhar nada a ninguém). O ideal é que se adapte a dosagem de cada perspectiva de acordo com a obra em questão e, principalmente, levando em conta o público a que o texto se destina.
    E o que você acrescentou sobre a adequação é de vital importância. Não adianta querer filosofar muito sobre Pokémon ou Unreal, embora seja possível ainda arriscar um ponto de vista gnóstico ao tentar compreender o papel deles na história dos jogos ou enveredar pelo fenômeno social que um é e pelos estímulos sensoriais que o outro causa. Realmente, só é preciso cautela para não viajar, enxergar coisa que não existe.

  26. Victor said

    Uma pessoa que tem mais experiência, conhece aspectos da coisa em questão que o público, normalmente, não conhece (tecnologia, referências à clássicos, etc.) e que se sente seguro em escrever sobre uma coisa que ele teve a oportunidade de experimentar e analisar. Esse, para mim, é o crítico, ou o cara que simplesmente analisa. É importante, na minha opinião, para expandir o ponto de vista de uma pessoa menos experiente (ou simplesmente o de uma pessoa que não notou aquele “detalhezinho”) para que esta possa aproveitar a obra olhando de vários pontos diferentes. Não diria se ele é “útil” ou não, mas digo que é natural que exista. É que analisar ou dar opiniões sobre uma coisa é tão natural, coisa que se faz em uma mera conversa entre amigos, que seria até estranho que ninguém na mídia/internet se prestasse a fazer isso. ^^
    E vejam: quando alguém pede para um amigo/conhecido recomendar algo, não pede isso para alguém que ele ache ser “entendido” ou “experiente”? Críticos formam críticos, e “entendidos” formam “entendidos”. Essa é minha teoria. õ.ó

    Agora: existe algum site que é EXCLUSIVO em analisar gnósticamente jogos? =D
    Eu adoro isso. Análises Gnósticas de ICO, Shadow of the Colossus, FFs e outros jogos devem ser demais. \o/
    Alguém me recomenda? Fabão Master “of Puppets”? \o/

  27. Victor said

    É possível viajar e filosofar sobre qualquer coisa! Pode ser chato para alguns (e para o próprio “filósofo”), mas é possível! \o/

    Eu sou bom nisso, por exemplo. Tem horas que enche e é até indesejável, mas eu consigo. ò.ó

  28. Diego said

    Querem se divertir um pouco nesse fim de domingo? Utilizem-se de ferramentas gnosticistas forjadas de forma idiossincrática para…: enterpretar (com ‘E’ mesmo) as músicas de How To Dimantle An Atomic Bomb sob a perspectiva de que Bono é o João Batista (é sério), e que anuncia a chegada…
    A declaração de mesmo num DVD comfirma: “This is our first album… it may have taken 20 years or so… [but it’s our true first album]”. Ao que me parece o cara descobriu algo e escondeu em metáforas e acordes, depois imprimiu tudo em mídias de alumínio e acrílico.

    Quem chegar a uma resolução interessante ganha um desenho da Samus (bêbada) com a ->verdadeira<- Zero-Suit (via email)(é sério).

    Tah eu sei é óffi-tópiqui num faz mau naum. Eu vou comer comida chinesa daqui a pouco e meu estomago certamente guenta porcaria.

    @Fabio Bracht
    É verdade o smailin tah em tudo que é lugar!! O meu, pq eu acho isso o máximo!?

  29. Fabão said

    @Victor
    Tem uma que lembrei agora e fui procurar, mas tiraram do ar. É a crítica do Chris Stead do site australiano Gameplayer. Provavelmente saiu do ar por ser polêmica, mas encontrei um bom excerto de duas páginas aqui, vale dar uma lida.
    No geral, recomendo todas as resenhas da revista britânica Edge, que podem ser encontradas no site Next Generation. Aqui algumas em especial que pincei agora:
    TIME EXTEND: Star Fox 64
    TIME EXTEND: Resident Evil 2
    Metal Gear Solid 4
    Grand Theft Auto IV
    Super Mario Galaxy (esta é realmente especial)

  30. Uehara said

    Me perdi um pouco aí no meio de tamanha polidez, mas mais uma vez, um belo texto e um assunto que gera muito mais assunto. Nunca parei pra pensar a fundo sobre o modo como as críticas são feitas, mas pra qualquer um que pensa em escrever um review algum dia, a explicação dos três métodos de crítica é uma verdadeira aula.

    Eu penso que nunca é demais ler um texto bem escrito sobre um assunto que te interessa. Um review bem feito pode te abrir os olhos pra um detalhe que você deixou escapar, mesmo que já tenha zerado o jogo. E, pra mim, um review perfeito é aquele que mescla um pouco das três perspectivas citadas: um texto que descreva o jogo, que dê a opinião do autor, e que ajude a compreender as nuances do jogo. É claro, nem sempre é possível atender ao terceiro fator, pra isso o próprio jogo analisado deve ter algum conteúdo.

    Pra fechar, eu gosto de análises, mas não acredito em “notas” de qualquer tipo, sejam numéricas, percentuais ou o que for. Prefiro ler o texto e ver do que se trata. A opinião do autor, pra mim, é útil e até necessária, mas fica em segundo plano.

  31. Sig said

    Pra mim, escrever deste jeito é forçado.
    Dá para se fazer entender de maneira bem mais simples e “universal”.

  32. idiosyncratic idiot said

    @Victor e quem mais estiver interessado:

    Não sei se é exatamente o que você procura, mas talvez você queira dar um olhada na The Gamers’ Quarter. Existem outros sites/blogs de New Games Journalism que também tendem fortemente para esta abordagem, embora não exclusivamente:
    The Brainy Gamer
    Sexy Videogameland
    Moving Pixels

    Aí é só o começo, se for pelo blogroll desses sites você acha muito mais coisa. Agora vou dar uma olhada nos links do Fabão.

  33. Kayo said

    Demais hein Fabão.

    Cê não acha que essa discussão merece até algumas páginas da revista?

    Continue com o bom trabalho de inspirar os críticos, analistas e ensaístas de plantão.

  34. Leonardo Zimbres said

    Ultimamente os reviews de jogos e produtos não me satisfazem. E gostaria muito de votar por mais aproximações gnósticas também.

  35. Diogo Teófilo said

    Antes de tudo, gostaria de elogiar o seu trabalho, Fabão. Enquanto fazia parte da EGM, acompanhava melhor o seu trabalho (moro em Maceió e nem sempre encontro a GAMEMASTER).

    Alimentando a discussão: é bastante relevante o papel do crítico profissional de games. Quando digo Profissional, eu me refiro, dentro de uma perspectiva ideal, à pessoa que traz consigo uma bagagem ampla de conhecimento, relacionado à prática do jornalismo e ao universo gamer, obviamente. Até porque o jornalismo de games consiste em mais uma vertente midiática, destinada a um público cada vez mais exigente, informado e intelectualizado. Dessa maneira, reitero: a elaboração dos textos presentes em revistas gamers deve partir de profissionais capacitados (cursando há certo tempo jornalismo, ou formados, preferivelmente), que admiram, conhecem, vivenciam a realidade gamística.

    Por quê digo isso? Porque uma matéria de qualquer revista não-especializada sobre games geralmente carece de maior profundidade, evidenciando inclusive o desconhecimento do autor sobre o tema, ainda que bem redigida, dentro daquilo que o português bem escrito requer: obediência a normas gramaticais, devida pontuação, concordância verbal, nominal… Enquanto isso, percebe-se caminho distinto na maioria das publicações especializadas: embora o autor demonstre conhecimento bastante superior ao dos profissionais das Vejas e Istoés da vida, no que concerne ao mundo gamer, é visível a presença de erros grotescos de gramática,concordância, etc. em seus textos, o que me entristece como leitor gamer assíduo, que possui nível superior e que acompanha atentamente a indústria desde o lançamento de Super Mario All-Stars (matéria presente na primeira revista de games que adquiri, uma querida Ação Games).

    Isso se dá, creio eu, principalmente por conta da pouca maturidade do nosso país, ainda fragilizado por uma população extremamente pobre, cultural e literalmente falando. Assim, temos salários pouco atrativos no meio jornalístico destinado ao publico gamer, o que afasta gente como eu, que adora games, adora escrever e gostaria bastante de tratar sobre o assunto, ainda que numa rotina de muiito trabalho, mas que infelizmente pensa em ter uma estabilidade financeira, que suporte a aquisição dos videogames de nova geração, assim como jogos, e por isso, acaba deixando um projeto desses de lado, seja por falta de perspectiva, seja por falta de coragem para arriscar, ou mesmo os dois.

    E aí chegamos ao ponto que queria (demorei, eu sei!): como fazer um bom jornalismo de games com recursos escassos? Como superar a ausência de redatores qualificados, ou enfrentar a inexistência de revisores capacitados?
    A resposta lhe serve de elogio, Fabão! Com muita garra, perseverança e dedicação!

    Críticos de games são profissionais que, como todos os outros jornalistas, dependem de conhecimento geral (aquelas disciplinas de jornalismo como filosofia, metodologia, sociologia, produção textual…) e específico (aquilo acerca do que os livros “ainda” não ensinam, o universo gamer). Somente a partir da aglutinação de tais conhecimentos torna-se possível uma análise de game polida, além do mais do mesmo, em que a análise se sobrepõe a meras notas relacionadas a gráficos, som e jogabilidade, alcançando o santo graal do jornalismo, que é surpreender o leitor com algo novo, e ainda assim consistente, uma leitura agradável e dotada de vasto conteúdo.

    Parabéns, Fabão!

  36. Fabão said

    @Diogo
    Se a obediência à gramática normativa fosse o único ou o maior de nossos problemas, Diogo, seria mais fácil tornar a mídia mais conceituada. Bagagem gamística, é senso comum, não falta aos que trabalham na área, ainda quando de fato falte (eu não joguei ICO, por exemplo, mas sei do que se trata). Há diversos profissionais muito qualificados, talentosos, criativos. E revisores também. O salto que falta, acho, é buscarmos uma aculturação que transcenda o nosso universo de interesses comuns: jogos, quadrinhos, anime, seriados, música, atualidades… Tudo isso é cultura, e cultura muito útil sim, antes que alguém questione. Só que acho que precisamos ir além.

    Como comentei acima, somos ainda muito jovens e, ainda bem, temos um mundo de conhecimentos a absorver no futuro. Neste processo de maturação, de gamers em geral, leitores e escritores, vamos nos tornando mais eruditos, e é natural que isso mude a maneira como apreendemos os jogos.

    Por isso eu começo a achar, com muita cautela, que a faculdade de Jornalismo talvez não seja a mais indicada para quem queira escrever sobre games. “Com muita cautela” porque, veja bem, sou consciente da importância da faculdade de Jornalismo não apenas para aquisição das técnicas para redigir diferentes tipos de texto, mas também para desenvolver uma atitude responsável diante da profissão e, principalmente, para aprender coisas mais importantes que isso com pessoas muito mais experientes. Como não cursei jornalismo, sou suspeito para falar, mas aprendi uma ou outra coisa com grandes amigos formados na área. Porém, o que quero dizer, é que talvez seja mais proveitoso, para acelerar a erudição, cursar algo no campo das artes, ou filosofia, ou psicologia, ou teologia, ou história… Eu, por exemplo, acabei de concluir meu primeiro semestre de Letras e fiz leituras que estão ampliando meus horizontes como nunca. Literatura, Poesia e Clássicos são meus novos amigos do peito.

    Obviamente, tudo isso é muito relativo, já que entram diversas outras variáveis na equação. É importante, por exemplo, optar por uma faculdade segura, que ofereça múltiplas opções profissionais no futuro, dentro da área escolhida. E também há a questão de que a faculdade não forma pessoas, apenas mostra caminhos. Tudo depende do interesse individual e, por isso, alguém pode se revelar versado em literatura alemã cursando, sei lá, Oceanografia.

    Por isso também usei “muita cautela” ao mencionar que Jornalismo pode já não ser a disciplina mais importante para escritores de games. Um estudante de Jornalismo pode muito bem, por iniciativa própria, ampliar sua cultura com leituras extra-curriculares ou buscar matérias optativas nas outras áreas de Humanas. Aí sim seria o profissional ideal para fazer, como você mencionou, um texto agradável e dotado de vasto conteúdo. Mas os caminhos para chegar aí podem ser muitos.

  37. Diogo Teófilo said

    Caro Fabão, quando falei a respeito da importância do jornalismo, fiquei um tanto reticente, afinal não sabia qual era a formação das pessoas que comentam no blog (muitos autores de reviews, que eu sei), inclusive a sua. Ia até comentar que, caso não houvesse cursado algo como jornalismo, seria um grande autodidata, digno de elogios. Explico: sou formado em Direito e passei por uma batalhão de disciplinas como sociologia, filosofia, metodologia, logo no primeiro ano letivo. Para ser franco, não me interessei bastante na época. À época, possuía 18 anos, e talvez não estivesse maduro o suficiente para absorver temas como a teoria do conhecimento, fases pré-socráticas, e afins. Pelo que percebo, não é o seu caso. O fato é que lendo o seu artigo, todo esse meu passado veio à tona: recordei as longas aulas de filosofia na boa e velha faculdade.
    Agradeço pela elegância com que conduziu sua resposta ao pensamento que expus no blog, através do qual ressaltei a importância do jornalismo como instrumento de formação daqueles que trabalham com o universo gamer.
    Peço perdão se de algum modo sugeri um desmerecimento da classe dos jornalistas gamísticos que não seguiram pelo caminho por mim apontado, o qual, apesar de na prática parecer o mais óbvio, talvez fuja ao propósito de formar o profissional ideal. Recordando que a mera graduação no curso de jornalismo, assim como no meu curso, Direito, infelizmente significam pouca coisa na prática, haja vista a existência de um sem-número de instituições caça-níqueis ao longo desse país, as quais não dispõem de um corpo docente de qualidade, e que mal exigem de seus alunos, a não ser o pagamento no fim do mês. Mas isso é outra discussão… O que sei é que quanto pior a faculdade, mais dedicado deve ser o aluno, tendo o bom senso de buscar nas bibliotecas e em fontes seguras da internet, aquilo que não encontra na sala de aula. Abraço!

  38. Diogo Teófilo said

    Corrigindo: Direito e Jornalismo. Fiquei tão acostumado em colocar Direito em caixa alta, e acabei esquecendo de fazer o mesmo com Jornalismo. Para ambos, o mesmo tratamento! hehehe

  39. Fabão said

    Imagine, Diogo, não é necessário pedir perdão. Você claramente não teve a intensão de ofender e nem muito mesmo usou de tom ofensivo – como também não ofendeu ninguém de fato, tenho certeza. Apenas disse algo que é verdade: a formação acadêmica é importante, e muito. Há, obviamente, o problema das instituições de pouca qualidade, e também não é de hoje que se diz que o curso de Jornalismo não é (e nem poderia ser) suficiente para abarcar todas as vertentes profissionais que se podem buscar a partir dele. No fim das contas, seja qual for o curso escolhido, o importante é que o aluno não se limite ao conteúdo ensinado nele, como você mesmo ressaltou. ^_^

  40. Victor said

    Poxa, por isso que eu gosto de discussões desse tipo. Discussões longas a respeito de assuntos legais levam a gente a pensar, e pensar é ótimo. E por isso que eu também gosto de games/animes/mangás, e de discutir sobre eles: são coisas que não se aprende em escolas, em livros, e que ainda não são medidas por diplomas, graduações, títulos e etc. São todas formas de cultura que são desenvolvidas como tal por total mérito da pessoa que gosta. Buscando conhecer mais sobre o que gosta, o que o motiva, o que o faz feliz, ele acaba abrindo seu leque de conhecimentos, de interesses, de gostos, e isso leva a todo o “resto”. Se isso não é o famoso “viver e aprender”, não sei o que seria. =]

    Títulos, diplomas, graduações e notas, ao meu ver, não querem dizer muita coisa. Muitas pessoas vão bem em provas porque decoram a matéria, decoram fórmulas, decoram coisas. Cara, o que você está ali, decorando, foi pensado e repensado por pessoas que criaram a tal “coisa chata e complicada” na tentativa de explicar algo da natureza. Não surgiu do nada. Odeio aquilo “… mas eu não vou usar isso em nenhum lugar na minha vida…”. PORR*$&%, você não costuma pensar na sua vida não, cara?

    Eu queria fazer filosofia AGORA, com 18 anos. Mas, sendo gamer, preciso de dinheiro e, com filosofia, acho eu, não se ganha muito dinheiro… o negócio é ficar mais velho e fazer algo do tipo, como o Fabão. =[

    Aliás: parabéns pelo blog! Muito bom.

  41. Victor said

    E não esquecer dos games, claro. ;D
    Se bem que não jogo faz tempo… mas estão sempre na minha cabeça. =D

  42. Victor said

    Só uma pergunta ^^:

    “Em suma, o que quero dizer é que, se abandonarmos o propósito utilitarista ao considerar uma resenha de jogo, e passarmos a apreendê-la de modo a acumular conhecimento (reconhecendo que você não precisa querer experimentar algo para se informar sobre este algo), teremos muito a enriquecer cultural e intelectualmente. Mas isso depende também do tipo de texto a ser lido.”

    Segundo o que você disse aí (e eu entendo o que disso, porque ando pensando assim), TUDO pode ser aproveitado. Até a conversinha mais idiota, ou o texto mais besta e mal escrito do planeta. Mas e aí, até quando aproveitar QUALQUER coisinha como algo que agrega informação é bom? Não gera um pouco de confusão, ou excesso de informação, sinceramente?

  43. Fabão said

    @Victor
    Não se você considerar a última frase e analisá-la à luz de tudo o que disse no resto do ensaio. Em suma, um texto prescritivo morre ao alcançar seu objetivo – você o esquece assim que consegue determinar se o produto em exame é ou não digno de sua atenção. Um texto gnóstico continua a marretar sua cabeça depois de ser lido – seu conteúdo vai muito além das aparências, às vezes além até mesmo do próprio objeto de estudo, e seus conceitos podem lhe acrescentar algo. Reforçando: depende do tipo de texto a ser lido.

  44. É por essas e outras que eu tenho orgulho de ser um gamer há duas décadas: as discussões que encontro nos blogs que visito (bem como a qualidade dos textos) são sempre incontestáveis. 🙂

  45. Olha… Realmente deu dor no cérebro… Brincadeira, fiquei foi feliz por ler um texto desses em um blog! É sério, antes só havia lido materiais com essa profundidade em mídia impressa e geralmente na forma de livros hehehe
    Bom, a minha postura quando falo de um game é, na maioria absoluta, tendenciosa com a minha impressão do jogo… Pois o foco dos reviews que fazia (tenho apenas falado sobre alguns games, review mesmo estou afastado) era informar ao leitor os elementos do jogo e no final dizer se valeria a pena comprar o jogo em questão… Hoje quando menciono um jogo, ainda sim o indico ou não para compra, mas de uma forma mais branda… E menos descritiva…

    Agora é realmente algo que todos devemos pensar, se o jogo é uma forma de arte, porque não observá-lo e criticá-lo como tal? Digo, criticarmos a obra e não o produto em si… Acho que essa tendência se deve ao fato da maioria do mercado achar os jogos apenas uma forma de passar o tempo, o que é algo satisfatório mas incompleto hehehe E olha que eu até pouco tempo achava que crítico era um profissional da área frustrado, o que vi não ser verdade quando comecei a criar uma visão crítica de filmes (eu sou muito chato com continuidade e etc) e mais recentemente de jogos hehehe

    Bom… É isso… Parabéns Fabão pelo texto!
    😀

  46. Felipe said

    “Em breve desativarei esta versão antiga do blog, então peço que realmente troque o feed e acostume-se com o novo (e mais elegante) endereço.”

    Onze anos e meio depois, eis que o velho endereço permanece de pé, tal qual um Old Snake em meio à guerra, enquanto o “novo” já não existe mais. Mas eu agradeço a tenacidade do antigo, pois de outra forma não poderia ler novamente teu texto, e meditar outra vez sobre conceitos caros para mim.

    Na crítica especializada de jogos, nunca encontrei um profissional semelhante a você, Fabio. Acompanho teu trabalho desde a Gamers, edição 37 (capa de Sonic Adventure). Esta foi a melhor revista de jogos que já li, justamente pelo respeito e amor que havia nela. Joguei poucos games que apareceram ali, mas costumava ler a revista inteira. A emoção de ler uma matéria, em alguns momentos, igualava a experiência de jogar.

    Mas eu não conhecia coisa alguma sobre arte na época. Hoje, depois de experimentar muita alta cultura, especialmente música e literatura, percebo como os games estão longe desse patamar. Um crítico literário como Augusto Meyer mergulha profundamente na alma humana em cada ensaio. Acho que algo assim é impossível de acontecer nos games. Tudo bem que literatura existe há milhares de anos, mas ela já começou séria, enquanto os games começaram como simples passatempo. Mesmo o cinema já alcançou níveis muito mais altos que os jogos.

    A impressão que tenho é que os games não buscam ser sérios. Talvez nem mesmo possam, pois não venderiam. Desconheço alguém que tenha se tornado um erudito através dos games. Em todo caso, pelo carinho que tenho por essa mídia que me acompanha desde criança – e que me proporcionou momentos muito bons – alimento minha esperança de que os futuros criadores de jogos amadureçam mais que os atuais.

    PS: Por alguma razão, o comentário que escrevi primeiro sumiu. Vai entender, mas acredito que esse aqui ficou melhor.

    • Fabão said

      Hahahaha! É mesmo irônico que o site antigo tenha sobrevivo ao novo! 😛

      Valeu por comentar, Felipe, e fico feliz que este baú empoeirado ainda sirva pra algo.

      Sobre a crítica de jogos em si, acho que ela tem crescido bastante ao longo dos 12 anos desde a publicação deste texto. No Brasil, vejo textos, artigos, discussões e ensaios fascinantes em veículos como o Jogabilidade, o Overloadr e canais como o Nautilus. Em língua inglesa, veja este vídeo-ensaio relacionando Nier: Automata e filosofia, ou este outro recente (do mesmo autor) discorrendo sobre a ligação entre Moby Dick do Melville e Metal Gear Solid V: The Phantom Pain.

      Seguem recomendações de outros canais que acompanho sobre aspectos específicos dos videogames, cheios de conteúdos bastante aprofundados:
      New Frame Plus (animação)
      Video Game Animation Study (animação)
      Design Doc (game design)
      Game Maker’s Toolkit (game design)
      SugarPunch Design Works (um pouco de tudo: animação, design, narrativa)
      Writing on Games (narrativa)

      Enfim, jogos podem contem temáticas bem profundas e ideias muito sofisticadas, mesmo os altamente comerciais, para não falar sobre os experimentais.

  47. Felipe said

    Muito obrigado pelos links, Fabio. Conferi todos pois não conhecia um sequer.

    Os canais sobre aspectos técnicos (animação, game design…) são excelentes – me maravilhei com A Animação de Phoenix Wright, do New Frame Plus. Mas a “arte técnica”, com o perdão do termo, é algo que sempre admirei nos games, desde o velho embate entre os gráficos pré-texturizados e os texturizados em tempo real. Essa minha admiração nascia do próprio enlevo dos críticos por essa característica dos jogos. Os podcasts demonstram muito conhecimento enciclopédico, que em épocas de Wikipedia não impressionam tanto.

    O problema surge quando saímos da técnica e entramos no que você chamou de perspectiva gnóstica. Pelo que vejo, podemos nos aprofundar no sentido de um jogo até certo ponto não muito elevado. Toda vez que vejo alguém ultrapassar esse ponto, o resultado é uma verborreia quase sempre sem sentido, muitas vezes contraditória, e sempre apresentada num tom de superioridade pseudo-intelectual (ou pseudo-profética). Podemos encontrar exemplos disso nos ensaios do Overloadr, e o melhor é que um deles já sintetizou a coisa para nós:

    “É bem provável que você já tenha se deparado com comentários de pessoas que acreditam que videogames não devam se misturar com política. Ou notado que algumas pessoas não gostam quando seu podcast ou canal do YouTube favorito abordam assuntos sérios do nosso mundo.”

    E o que são esses assuntos sérios? Segundo o autor do texto, Henrique Sampaio:

    “É importante olhar para Towerfall e perceber como ele ajuda a desconstruir estereótipos de gênero ao associar a cor rosa a um garoto e azul a uma garota. É importante olhar para Mafia III e notar como ele faz comentários sobre racismo e violência policial a partir das próprias mecânicas de jogo. Ou como The Division nos coloca numa força militar para proteger o Estado da desordem civil, bem ao contrário de Jet Set Radio, que é sobre desobediência civil a partir da liberdade de expressão. Que Sonic possui um comentário ambientalista, que a série Oddworld é uma crítica ao capitalismo tanto quanto BioShock é uma crítica ao liberalismo. A gente tá consumindo política em jogos há décadas e parece que não estamos falando o suficiente sobre isso.”

    Por “assunto sério”, o autor entende “assunto político com viés de esquerda” em vez de “questões caras a todo espírito humano”. Os vídeos-ensaio são exemplos ainda melhores, pois naquele sobre Metal Gear o autor inicia com uma epígrafe de Forster que reza: Nothing can be stated about Moby Dick except that it is a contest. The rest is song.” Ora, se é assim, por que o autor teima em criar “statements”? Moby Dick é sobre a América e a sociedade capitalista? Metal Gear V é uma declaração de tese contra a militarização? O que os EUA e a Europa Ocidental mais desejam é que o Japão se torne uma força militar mercenária com alcance global para lutar suas guerras? Ele veste sua camisa de força interpretativa no livro e no jogo e apresenta-a como se fosse a mais óbvia verdade. Serve a esse propósito todo tipo de técnica persuasiva, entre as quais se destacam as afirmações veementes para não percebermos a falta de base (há consenso entre a crítica literária sobre essa interpretação limitada de Moby Dick? E a crítica de jogos sobre Metal Gear V?) e as imagens sobrepostas de situações com contextos totalmente diferentes (guerra declarada vs preservação da ordem pública, munição real vs munição de tinta). O vídeo sobre Nier segue o mesmo padrão, e destaco especialmente “uma das questões filosóficas mais antigas da humanidade: a luta por sentido em uma existência sem sentido”. Seria a filosofia tão burra a ponto de passar milênios meditando sobre uma questão cuja resposta está no próprio enunciado? Ou seria ela não o amor ao conhecimento, mas o amor à mentira, pois quer inventar sentido onde não existe? Talvez o autor, muito mais que filosofia, necessite de um estudo sério de Logoterapia.

    Enfim, o assunto da perspectiva gnóstica certamente é muito amplo pra caber aqui. Ele merece um tratamento de várias horas de conversa, com café e bolachas. Fabio, não sei se esse texto é teu, mas para mim a perspectiva gnóstica se assemelha muito mais a ele:

    “A mensagem de Matel ainda ecoava em minha mente quando Chester comentou sobre a peculiar fumaça negra que unia os céus e a terra. Um grilhão vertical, como um caminho para as almas, um Post Script da destruição. A destruição da vila de Totus. Imediatamente as palavras de minha mãe brotaram em minha mente. Sem relutar um segundo sequer, corremos para o lar devastado. Como numa reação automática, uma leve chuva começou a descer das nuvens, apresentando os pêsames das nuvens a nós e a nossos olhos, que presenciavam o mais brutal cenário. Mortos. Todos. Corri para a academia, na esperança de encontrar meus pais vivos. A pressa apenas alimentou minha decepção. Meu pai, morto diante da entrada, e minha mãe, deixando que a vida escorresse entre minhas mãos… Apesar da dor, procuro por Chester, terminando por encontrá-lo em sua casa, diante do corpo inerte de sua irmã Ami. Não permitiram nem que uma criança de cinco anos vivesse…”

  48. Felipe said

    Oi Fábio, perdão por invadir teu baú empoeirado outra vez. Sou o mesmo Felipe do comentário acima.

    A razão de voltar aqui depois de mais de três anos é que eu escrevi, uns meses atrás, uma espécie de ensaio sobre a aventura de E-102 em Sonic Adventure. Foi uma tentativa de mergulhar fundo no sentido daquela aventura, e de entender o porquê dela me marcar tanto. E, como sei que você leva videogame a sério, achei que poderia te interessar.

    Não sou escritor nem ensaísta, mas creio que há no meu texto pelo menos a essência do que procuro num bom ensaio, ainda que minha arte seja canhestra. Tenho percebido que os jogos contêm uma riqueza muito maior do que eu enxergava três anos atrás. Por esses dias estive meditando sobre diversos deles, em especial Kingdom Hearts e Final Fantasy VIII. Há neles um uso muito habilidoso de símbolos e uma forte – muito forte! – influência da cultura em aspectos realmente altos da religião, arte, filosofia etc.

    Caso te interesse ler, deixo aqui o link. Não faço propaganda, porque meu blog tem bem pouca coisa: é um espaço onde ponho uma ou outra ideia que me ocorre, ou seja, é mais para uso pessoal. Mas talvez o ensaio em questão não seja indigno da atenção de alguém que ama videogames, e cujo amor fomentou o de outros gamers pelo Brasil, incluindo o deste humilde escriba.

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